segunda-feira, 10 de maio de 2010

Uma Praça Chorosa

Chorões das novas e antigas gerações se reúnem semanalmente na Praça Benedito Calixto para apresentar e discutir um dos gêneros mais tradicionais da música brasileira

A Praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, é bastante conhecida por abrigar aos sábados uma das maiores feiras de antiguidades e artesanato da cidade de São Paulo. Além disso, a praça é também famosa por ser um dos tradicionais refúgios do choro, gênero musical brasileiro popularmente conhecido como “chorinho”, na grande metrópole. Há quase 20 anos, todos os sábados, faça chuva ou faça sol, o Choro da Praça acontece. Sempre das 14:30 às 18:30, o Quinteto da Praça Benedito Calixto se apresenta trazendo o repertório de Pixinguinha, Benedito Lacerda, Jacob do Bandolim, entre tantos outros.


A música produzida pelos “chorões” é uma dos mais tradicionais do Brasil, com mais de 130 anos de história. É considerada por muito inclusive a primeira música popular urbana tipicamente brasileira. O nome do gênero, porém, pode enganar aqueles que não o conhecem. Em geral, as músicas possuem ritmo agitado e alegre, da mesma forma que o samba, mas com suas especificidades. Uma delas é a necessidade de improviso dos músicos, que precisam ter pleno domínio sobre o instrumento. Geralmente, um conjunto de choro possui instrumentos de solo como flautas, bandolim e cavaquinho, que executam a melodia; cavaquinho faz também o centro do ritmo; mais um ou mais violões, que formam a base; além do pandeiro como marcador de ritmo.

Em quase 20 anos de atuação, a composição original do Quinteto da Praça Benedito Calixto mudou quase que por inteira. Dos integrantes originais só sobrou o seu Wilson, que há 15 anos é o violonista do Quinteto. Wilson – e apenas Wilson, porque esse é o nome de guerra que leva há mais 25 anos – conta que o Quinteto da Praça Benedito Calixto era composto por “cinco velhinhos”, em parte porque os próprios frequentadores da praça eram naquela época em sua maioria idosos. Um público bem distinto do atual. Hoje, grande parte do público é composta por jovens. Consequência talvez da mutação do próprio bairro que originalmente residencial passou a concentrar, nos últimos 10 anos, uma grande gama de casas noturnas. Essa mudança se refletiu também na composição do próprio conjunto, formado hoje por dois senhores de mais de 75 anos e três jovens na faixa dos 20 e 30 anos. José Correia, também conhecido como Zezinho Guarani, é o mais experiente do grupo. Aos 80 anos, percussionista há mais de 60, é ele o responsável pelo acompanhamento bem marcado do pandeiro, que junto ao violão e o cavaquinho formam a base do choro.

Durante as apresentações de quinteto, não é difícil ouvir entre o público expectador palavras em inglês, francês e espanhol. A junção de arte, artesanato e apresentação de música genuinamente brasileira é exatamente o tipo de espaço atraente aos olhos e ouvidos dos estrangeiros que querem presenciar a diversidade cultural da cidade.

Espaços públicos e gratuitos como a Praça Benedito Calixto permitem a livre troca entre músicos e público. Não é difícil surgirem pessoas interessadas em dar uma “canja” em meio às apresentações do quinteto. Foi assim que a flautista Marina Beraldo Bastos, de 22 anos, foi convidada a integrar o grupo, quando no início de 2009, a musicista recém-chegada de Florianópolis perguntou a seu Wilson se poderia “dar uma palhinha”.

Também o cavaquinho de Daniel Ricardo Taurizano entrou para o quinteto dessa forma. Daniel, já antes frequentador da praça, passou a fazer parte do conjunto depois de se oferecer para acompanhar os músicos durante uma apresentação.

Ao longo dos anos o Chorinho da Praça ganhou um público cativo. Arlindo Ridore de Siqueira é há 15 anos uma “figura carimbada” da Praça aos sábados. O comerciante aposentado de 73 anos, além de admirador e amigo do quinteto ao longo dos anos passou a ser também compositor de chorinhos. “O choro é um dos ritmos mais originais que o Brasil tem”, explica Arlindo.

O repertório do Choro na Praça não consegue fugir dos clássicos, como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. No entanto, outros compositores importantes e ainda na ativa também têm seu espaço, embora pequeno, entre as músicas das apresentações. É o caso de Altamir Carrilho, Isaías, e Milton Mori (Miltinho).

Essa troca entre as gerações faz com que as discussões sobre produção, rumo, e novas técnicas do choro estejam cada vez mais presentes entre os compositores e musicistas do local. Em conversas corriqueiras entre eles, é inevitável o surgimento dessas discussões.

Mas na Praça Benedito Calixto a discussão acerca do gênero é presente essencialmente em outro patamar. Lá o público participa mais como curiosos do que como entendidos sobre o gênero. Isso gera um tipo diferente, mas também importante, de troca musical.

Mais do que importante esse tipo de troca com o público é essencial para que gêneros tradicionais da cultura brasileira não sejam esquecidos pelas novas gerações. Afinal, sem público, nenhuma arte sobrevive.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Aonde ir: dicas de padarias no Bixiga

Uma das principais padarias italianas do Bixiga é a Padaria 14 de Julho, localizada na rua que leva o mesmo nome. Por fora, a padaria – uma das mais tradicionais da região - aparenta ser um estabelecimento comercial normal, assim como os outros existentes por lá. Simples, paredes avermelhadas, portão da mesma cor. Somente quando ele é aberto é que descobrimos quanta tradição está presente ali dentro.

O atual administrador, Alexandre Franciulli, faz parte da terceira geração da família a tomar conta do local. Segubndo ele, a padaria foi fundada em 1897 por seu avô Rafaelli Franciulli, um ano após fundar a Italianinha, outro estabelecimento do gênero do mesmo bairro. Além dos tradicionais produtos italianos, como pães, patês e antepastos, a Padaria 14 de julho é famosa por uma especialidade de Alexandre: o pernil assado com vinho, receita que ele mesmo criou e que sai em torno de 34 reais o quilo.


Outra padaria do mesmo gênero é a Italianinha, localizada na Rua Rui Barbosa. Ela é a mais antiga do Bexiga – foi fundada em 1896, um ano antes da 14 de julho - e é também propriedade de família Franciulli. Na Italianinha, a tradição já é percebida do lado de fora; a fachada verde e o toldo vermelho sugerem uma referência à raiz da família. O avô da família, fundador da padaria, havia construído um forno à lenha naquele local, que era utilizado no início somente para consumo próprio da família. No ano de 1896, a padaria foi construída, e o mesmo forno continua funcionando até hoje para servir os clientes.No cardápio, diferentemente da 14 de julho, a especialidade é a rosca recheada de tomate seco e linguiça calabresa.

Existe também a Basilicata, a padaria mais recente de lá. Ela fica na Rua Treze de Maio e foi fundada em 1914. O nome é uma referência à região de onde veio a família Laurenti. Segundo os vendedores, os itens mais vendidos são os azeites e os vinhos importados, alichi em conserva e os pães recheados, estes últimos sendo vendidos em torno de 15 reais.

Todas ótimas dicas para quem deseja ter uma boa refeição em um ambiente alegre e familiar - tipicamente italiano.

* Foto retirada de http://www.baressp.com.br/admin/carrega_imagem.asp?T=G&L=320&I=/barreporter/imgs/Cantina-Montechiaro-1.jpg

Memória: Gostinho italiano na Bela Vista

A região do Bixiga, no bairro da Bela Vista, é conhecida por ser um reduto histórico dos italianos na cidade de São Paulo. E essa fama é antiga: por volta do final do século XIX, grande número de italianos deixou seu país para vir como imigrante morar no Brasil. Ali encontraram um lugar para disseminar um pouco de suas tradições. Além das cantinas e Igrejas existentes e também das festas realizadas na região como homenagem a essa cultura, as padarias são destaque no orgulho mantido dos descendentes pelas tradições do país ibérico.

Todas elas possuem uma clara semelhança entre si, tendo a imagem de um típico estabelecimento italiano. A principal característica é a existência de pouco espaço para muitos produtos. Dessa forma, todos os cômodos aparentam ser menores do que realmente são, criando uma sensação de aperto. Os alimentos encontram-se por todos os lados; as mesas de madeira são as mais utilizadas para deixar doces, salgados e biscoitos à mostra. Também é comum a existência de um refrigerador para guardar patês e antepastos. Alimentos frios como linguiças, queijos e pedaços de pernil ficam pendurados em barras de ferro sobre nossas cabeças. E, como não podia faltar, garrafas de vinhos dos mais variados tipos são colocadas em suportes de madeira nas paredes.

Mas o melhor de tudo, e com certeza uma das características mais apreciadas pelos frequentadores, é o cheiro de pão fresquinho que já pode ser sentido das ruas.

* Foto retirada de http://static.hsw.com.br/gif/sao-paulo-gastronomia-6.jpg

Bem-vindo à Paulicéia!

São Paulo! Ritmo frenético, elétrico, 24, 48, 72 horas por dia!
Cidade que não pará, não respira, mal cabe em si.
Mãe Metrópole que a todos acolhe, para onde tudo converge e de tudo se apropria.
Seus espaços diversos, sejam fechados ou abertos. Seus personagens, principalmente os anônimos. Sua cultura moderna, mutante, universal.
São Paulo gigante, que de tão grande se perdeu. 
Também nós nos perdemos dela.
Por isso é preciso redescobrir cada canto, cada gente, cada detalhe encoberto pelo asfalto e pelo concreto. A selva de pedra precisa, cada dia um pouco, ser desbravada.